quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Tudo sobre a hepatite C
A estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de que 170 milhões de pessoas tenham hepatite C em todo o mundo. Os números nacionais também são preocupantes. Dados do Ministério da Saúde apontam que cerca de dois a três milhões de brasileiros podem estar infectados pelo vírus C, o que corresponde a aproximadamente 2% da população. Os dados demonstram o tamanho da epidemia, que já é um dos mais graves problemas de saúde pública.

As hepatites consistem em toda e qualquer inflamação do fígado, que podem aparecer como uma simples alteração em um exame laboratorial, quando em seu estágio crônico, ou mesmo como uma doença fulminante e fatal, mais frequente na configuração aguda.

A doença pode se dar por diferentes formas, sendo as mais conhecidas causadas pelos vírus, A, B, C D e E. Mas, também existe a hepatite por medicamentos, alopáticos, naturais ou fitoterápicos, por bactérias, por doenças autoimunes, por álcool e por doenças genéticas. “Anti-inflamatórios, anticonvulsivantes e hormônios, principalmente anticoncepcionais, também podem causar hepatites.”, alerta Eloíza Quintela, hepatologista especializada no Tratamento de Doenças do Fígado.

A hepatite A, transmitida por alimentos ou água contaminada, é a mais comum e menos grave. Está diretamente relacionada com a falta de hábitos de higiene. Pode ser sintomática ou assintomática, mas o próprio organismo consegue resolver o problema sozinho. No nordeste, 57% das pessoas adultas já tiveram contato com este vírus.

Segundo a hepatologista, os tipos B e C, transmitidos através do contato com sangue contaminado, são bem mais graves. “Na maior parte das vezes assintomáticas, essas doenças tendem a se tornar crônicas por falta de diagnóstico e tratamento. A hepatite B é a mais temida, pois o melhor que conseguimos é interromper a multiplicação do vírus e retroceder um pouco seus níveis no organismo, mas o portador vai conviver com ele por toda a vida.”, explica.

Assim como a hepatite B, a C também se apresenta de duas formas. A aguda, quando a infecção aparece logo que o vírus se instala no corpo, e a crônica, na qual o paciente já está contaminado há no mínimo seis meses. A hepatite C normalmente não causa sintoma algum, ou apresenta sinais muito inespecíficos, como letargia, dores musculares e articulares, cansaço ou náuseas. Como as pessoas não sabem que estão infectadas, cerca de 80% dos casos acabam evoluindo para a fase crônica. “Os indivíduos podem ficar décadas ou mesmo a vida toda sem saber. Há uma quantidade de pacientes infectados que inclusive nunca desenvolve doença grave ao longo da sua vida”, diz Raymundo Paraná, presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia.

Para os que convivem anos e anos sem saber que têm o vírus, o maior perigo é só perceberem que estão doentes depois que o fígado está com danos graves. “Dos casos diagnosticados, 30 a 60 milhões deles evoluem para as formas avançadas que podem levar ao óbito. A Hepatite C crônica evolui silenciosamente por décadas. As ocorrências que diagnosticamos hoje, foram fruto de contaminação nas décadas de 60, 70 e 80.”, afirma o médico. Por isso, a faixa etária que atualmente é mais atingida por este mal está entre a terceira e a quarta década de idade.

Estima-se que apenas um terço dos pacientes com infecção aguda pelo vírus C venha a ter sintomas ou icterícia (pele e olhos amarelados). “Nem dor de cabeça, nem febre ou enjoo, nem sequer uma indisposiçãozinha de fim de tarde. Ela é absolutamente silenciosa até que tenha atingido seu estágio mais avançado. Sem qualquer sintoma ou informação sobre a doença, uma em cada 12 pessoas do mundo caminha a passos largos para complicações reversíveis somente com um transplante. Este é o mais sorrateiro dos males da atualidade.”, comenta Eloíza Quintela.

Se não for tratado a tempo, o vírus C tem potencial de evoluir para uma cirrose e até um câncer de fígado. A hepatite é hoje a principal causa de transplante de fígado no país, responsável por 50% dos procedimentos. “Além dessas complicações, a infecção também pode desencadear outras doenças através da estimulação do sistema imunológico, que acarretam na diminuição da qualidade de vida. São elas: encefalopatia, água na barriga, peritonite bacteriana, insuficiência renal e sangramento de varizes no esôfago.”, acrescenta a doutora.

A hepatite C é transmitia através do contato com sangue contaminado. Apesar das especulações recentes mostrando a presença do vírus em outras secreções como o leite, a saliva, a urina e o esperma, segundo especialistas a quantidade do vírus parece ser pequena demais para contaminar e não há dados que sugiram contágio por essas vias. A transmissão sexual também continua a ser considerada improvável.

Há possibilidade de contágio de mãe para filho durante a gestação e no parto, e os grupos de maior risco incluem receptores de sangue, usuários de drogas endovenosas, pacientes em hemodiálise e trabalhadores da área de saúde. “O contágio pode acontecer por partilha de seringas, agulhas ou instrumentos perfuro-cortantes e até mesmo objetos de higiene pessoal”, afirma o médico.

O vírus da hepatite C é muito resistente e chega a sobreviver de 16 horas a quatro dias em ambientes externos. Por isso, é muito importante conferir a esterilização das agulhas no tratamento de acupuntura, de clínicas odontológicas, de estúdios de piercings e tatuagens, e até mesmo, de salões de beleza. “Teoricamente, a espátula, a tesoura e o alicate de unha podem transmitir a doença. O mesmo acontece com a tatuagem, se esta for realizada em locais impróprios e não vistoriados pela vigilância sanitária.”, esclarece Dr. Raymundo Paraná.

A maioria das pessoas descobre que está infectada pela hepatite C sem querer, ao realizar um exame de sangue de rotina ou ao doar sangue. O resultado positivo detecta um nível alto de enzimas produzidas pelo fígado na amostra e também se você tem ou não os anticorpos contra o vírus.

Se a lesão hepática estiver em estágio inicial, é provável que você não precise tomar remédios. “A cura pode ser espontânea logo no começo da infecção. De 20 a 50% das pessoas conseguem se curar desta forma. Já na fase crônica, podemos tratar com medicações que oferecem de 45 a 90% de chance de cura dependendo de alguns fatores como peso, sexo, hábitos alimentares e dos exames de cada um.”, explica o especialista.

A decisão de tratar a doença com medicamentos anti-virais deve ser tomada em conjunto com seu médico. São tratamentos longos, árduos e bastante caros. Mas o SUS, sistema único de saúde, através do programa nacional de prevenção e tratamento das hepatites virais do Ministério da Saúde, fornece todo o tratamento gratuitamente.

Nem sempre há cura, mas é possível controlar. “Hoje, cerca de 55% dos pacientes que tratam vão se curar. Atualmente é indicado o uso subcutâneo de interferons e de ribavirina, antiviral de uso oral. O tempo será definido pelo genótipo do vírus e a carga viral. Habitualmente leva entre e 24 a 48 semanas.”, especifica a doutora.

As hepatites A e B possuem vacinas para imunização, a C não. “Este vírus entra no nosso organismo e vai se transformando em outras cepas, então é difícil com tantas mutações elaborar uma vacina tão potente para muitos subgrupos. Estudos estão em elaboração e esperamos que em breve a engenharia genética possa nos brindar com a vacina.”, ressalta a Dra. Eloíza Quintela.

Apesar dos esforços em conter a epidemia atual, especialmente com a realização de exames específicos em sangue doado, a hepatite C é uma séria ameaça à saúde pública. “Os números têm se mantido estáveis, contudo, temos muitos pacientes sem diagnóstico. Por ser uma doença que se mantém silenciosa por décadas, o diagnóstico é subestimado.”, aponta o médico.

Assim, medidas adicionais de prevenção e tratamento precisam ser tomadas. “A principal arma nessa batalha é a informação. Além disso, não custa nada todo mundo pedir, na próxima consulta médica, uma requisição para fazer o exame de teste.”, sugere a especialista.

Fique atento para alguns indícios: cansaço extremo, dor nas articulações, dor de estômago, coceira, dores musculares, urina escura ou icterícia, avermelhamento das palmas das mãos, inchaço no estômago, pernas e pés, e até mesmo confusão mental, distúrbios de memória e de concentração.

Vale ainda reforçar que ao contrário do vírus da gripe, por exemplo, não se pode pegar hepatite C pelo contato casual como abraços, beijos, espirros, tosse, ou através de talheres, toalhas ou roupas. Por isso, ninguém deve se afastar dos indivíduos infectados, e sim ajuda-los, dando a eles muito carinho. É preciso acabar com o preconceito.

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