Não há muito tempo, a resposta sexual era entendida de forma integral. Ela era um evento único, o que fazia com que, devido ao desconhecimento das diferenças entre as fases, não houvesse uma diferenciação entre as várias entidades clínicas. Os homens eram chamados de impotentes e as mulheres de frígidas. Conforme a resposta sexual foi sendo mapeada, por alguns estudiosos, pode-se separá-la em fases. O primeiro deles foi Ellis (1897) que se focou na fisiologia da questão sexual. Mesmo que já se percebesse na época a importância da atração para a origem e conservação do ato, salientou somente a continuidade de reações orgânicas.
Dividiu o ato sexual em duas fases: tumescência (acúmulo crescente de energia, marcada pela congestão sanguínea no aparelho genital) e detumescência (descongestão vascular que acompanha a descarga orgástica.) O segundo esquema foi elaborado por dois pesquisadores americanos, Masters e Johnson (1966) numa teoria formulada em um laboratório onde era possível pesquisar cientificamente as modificações do corpo durante a atividade sexual. Contaram com o apoio de pessoas voluntárias que permitiram o monitoramento das atividades sexuais através de um aparelho criado para detectar alterações de cor e temperatura corporais.
Concluíram então um padrão de resposta sexual para homens e mulheres, que nomearam de Ciclo da Resposta Sexual Humana composto por 4 fases distintas, dividindo a anterior tumescência de Ellis em excitação e platô e a detumescência em orgasmo e resolução. Tal modelo preconizava que tanto o estímulo interno (pensamentos e fantasias) quanto externo (provocado pelos 5 sentidos) promoveria a excitação.
Mas o modelo de Masters e Johnson apresentava algumas imperfeições por não considerar os aspectos mais particulares e subjetivos da resposta sexual. Foi assim que mais tarde, aprimorando tal idéia, a psiquiatra Helen Kaplan, em 1979, complementou com uma terceira proposta, onde antecedendo à fase da excitação viria o desejo - importante para o desenrolar das fases posteriores e com isso propôs um esquema trifásico:
Desejo:
Primeira fase do ciclo, onde os instintos são estimulados, mas não aparecem indícios orgânicos objetivos. É uma etapa subjetiva caracterizada pela resposta sexual ao estímulo dos cinco sentidos e que incita a busca pela atividade sexual. Nas mulheres, o olfato e o tato são atores principais no aumento do desejo sexual.
Excitação:
A segunda fase do ciclo sexual caracteriza-se pelas respostas fisiológicas do corpo frente aos estímulos que dispararam anteriormente o desejo sexual. Há uma crescente excitação sexual, manifestada pelo binômio vaso congestão (aumento da quantidade de sangue acumulado em alguns órgãos do aparelho genital e extragenital) e miotonia (tensão muscular caracterizada pela crescente e involuntária contração das fibras musculares). Pode ser acelerada ou encurtada, prolongar-se por bastante tempo ou ser interrompida.
Nas mulheres tal fase é caracterizada pelo início da produção de uma secreção responsável pela lubrificação vaginal, um ligeiro aumento clitoriano, ampliação do útero e início da sua elevação, aumentando sua capacidade de acomodar o pênis. Também se manifesta nos seios que sofrem um pequeno aumento em seu tamanho e nos mamilos que se tornam eretos. Há um aumento da freqüência cardíaca e respiratória, assim como da pressão sanguínea. Ocorre o rubor sexual (a pele fica avermelhada), clitóris e pequenos lábios aumentam de tamanho, enquanto os grandes lábios se retraem deixando livre a entrada da vagina.
Orgasmo:
Ocorre a liberação total das tensões anteriormente retidas, acompanhada de contrações musculares reflexas. Subjetivamente carateriza-se pela sensação de prazer sexual, perda da acuidade dos sentidos, sensação de desligamento do meio externo, seguida pela liberação, em poucos segundos, da vaso congestão e miotonia. O orgasmo feminino corresponde a contrações reflexas ritmadas dos músculos perivaginais e perineais que circundam a vagina. O útero também participa dessas contrações.
Diferentemente dos homens, as mulheres ao continuarem a serem estimuladas podem experimentar novo orgasmo. Mas não se pode esquecer que a sexualidade por mais que envolva um aspecto fisiológico, abrange outras dimensões que são mais subjetivas como a capacidade de entrega, de aceitação do outro, do relacionamento e de si.
Basson (2004) apresentou uma nova proposta para o ciclo de resposta sexual feminino. Ela destacou o valor da intimidade como motivação para o sexo, afirmando que muitas mulheres dão início ao ato sem que estejam interessadas ou entusiasmadas, mas buscam o carinho e aproximação física, antes de serem implicadas pelas sensações eróticas. Dessa forma foi proposto um modelo circular para o ciclo feminino em que a falta de desejo sexual espontâneo não revelaria uma disfunção sexual, excluindo muitas mulheres de categorias tidas como disfuncionais.
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