sábado, 5 de fevereiro de 2011

Dia Mundial do Câncer: 120 países se mobilizam pela prevenção contra tumores, diabetes, doenças cardiovasculares e respiratórias

Essas doenças respondem por mais de 70% dos gastos assistenciais do SUS e por 67% de todas as mortes registradas no Brasil
Rio (04/02) - O Dia Mundial do Câncer, celebrado em 4 de fevereiro, terá neste ano uma pauta ampla: mobilizar as 400 organizações espalhadas em 120 países, representados na União Internacional para o Controle do Câncer (UICC, na sigla em inglês), entre os quais o Brasil, a adotarem campanhas sistemáticas de prevenção. O objetivo é combater o efeito considerado “catastrófico” das doenças crônicas não-transmissíveis sobre as populações e os sistemas públicos de saúde.

No país, o câncer, a diabetes, as doenças cardiovasculares e respiratórias consomem mais de 70% dos gastos assistenciais do Sistema Único de Saúde (SUS) e respondem por 67% das mortes registradas no país. Os dados são do Ministério da Saúde e do Instituto Nacional de Câncer (INCA).

Os efeitos dessas doenças sobre as populações e os sistemas públicos de saúde são tão devastadores que a Organização das Nações Unidas (ONU) incluiu na pauta da sua Assembleia Geral, marcada para setembro, em Nova Iorque, uma discussão sobre o tema. Essa é a terceira vez que as Nações Unidas abrem espaço para discutir assuntos dessa natureza. Ocorreu com a poliomielite, em 1988, a partir de uma resolução da Organização Mundial da Saúde (OMS) de erradicar a doença no mundo até o ano 2000; com a Aids, em 2001, e agora com as doenças crônicas não-transmissíveis.

“O objetivo é chamar a atenção dos países e dos gestores da saúde em todo o
mundo para a necessidade urgente de se adotar medidas de prevenção e controle dessas doenças”, afirma o diretor-geral do INCA, Luiz Antonio Santini, porta-voz da UICC para a América Latina. Segundo a OMS, as doenças crônicas não-transmissíveis são responsáveis por 58,5% de todas as mortes ocorridas no mundo. A UICC afirma que são 35 milhões de mortes por ano sendo que 9 milhões poderiam ser evitadas.

No Brasil, até a primeira metade do século XX, as Doenças Infecciosas Transmissíveis, caso da tuberculose e do sarampo, eram as causas mais frequentes de morte. A partir dos anos 60, uma série de fatores combinados potencializou as doenças crônico-degenerativas: o envelhecimento da população, a redução das taxas de desnutrição, a queda nas taxas de natalidade, o excesso de pessoas com sobrepeso e obesas são alguns desses fatores.

Essa mudança, que é uma tendência mundial, no Brasil, é observada em todas as regiões. A maior redução foi registrada na região Norte: em 1980 as doenças infecciosas e parasitárias representavam 26% do total de mortes, já em 2008, elas foram causa de 6,5% dos óbitos. Na região Nordeste, os óbitos por essas doenças caíram de 21% para 5% do total registrado.

SAIBA MAIS:

Câncer

Entre as doenças crônicas não-transmissíveis, o câncer é a segunda causa de morte, atrás apenas das cardiovasculares. A cada ano no Brasil há 500 mil novos casos de câncer, segundo dados do INCA. Entre 2000 e 2007, os investimentos do Ministério da Saúde com a doença aumentaram em 20% ao ano, passando de R$ 200 mil para R$ 1,4 bilhão, em 2007. Anualmente, são internados cerca de meio milhão de pacientes em todo o país. Todos os meses, 235 mil procuram os ambulatórios para fazer quimioterapia; 100 mil para fazer radioterapia. Grande parte dos investimentos é direcionada na luta contra os tumores mais incidentes entre os brasileiros, como os da mama e do colo do útero.

O câncer do colo do útero é o segundo tumor mais frequente na população feminina, atrás apenas do câncer de mama, e a quarta causa de morte de mulheres por câncer no Brasil. Por ano, faz 4.800 vítimas fatais e apresenta 18.430 novos casos. Prova de que o país avançou na sua capacidade de realizar diagnóstico precoce é que na década de 1990, 70% dos casos diagnosticados eram da doença invasiva. Ou seja: o estágio mais agressivo da doença. Atualmente 44% dos casos são de lesão precursora do câncer, chamada in situ. Esse tipo de lesão é localizada. Mulheres diagnosticadas precocemente, se tratadas adequadamente, têm praticamente 100% de chance de cura.

Em relação ao câncer de mama, nos últimos oito anos, o Brasil aumentou em 118% a oferta de mamografias e em 73% as ultrassonografias das mamas. A queda na mortalidade em cidades, como São Paulo e Porto Alegre, que lideram as estatísticas de novos casos, indica que o país está no caminho certo. Mesmo assim, no Dia Mundial do Câncer, a UICC alerta que é necessário intensificar as medidas de controle.

Segundo a UICC, o câncer custou US$ 1 trilhão à economia global em mortes prematuras e invalidez, sem considerar os custos médicos. O impacto econômico da doença é 20% maior do que o das cardiovasculares. Estudo da ONG American Cancer Society, maior porta-voz da sociedade civil norte-americana para assuntos relativos a câncer, os tumores custam mais em produtividade do que a Aids, a malária, a gripe e outras doenças infecciosas.

Brasil

No Brasil, a maior redução entre as doenças crônicas foi registrada nas mortes por doenças respiratórias (enfisema pulmonar, doença pulmonar obstrutiva crônica, asma, etc.), o que equivale a uma queda média de 2,8% ao ano na taxa de mortalidade. Uma das explicações para esse resultado é a diminuição do tabagismo no país. Entre 1989 e 2009, o percentual de fumantes na população caiu de 35% para 16,2%.

Principal causa de morte no país, as doenças cardiovasculares concentram 29,4% do total de óbitos declarados, com 308 mil registros em 2007. A taxa de mortalidade decorrente dessa enfermidade caiu 26% (Saúde Brasil - 2009, SVS) em 11 anos, com redução média de 2,2% ao ano, passando de 284 por 100 mil habitantes, em 1996, para 206 por 100 mil habitantes, em 2007. Uma das explicações para esse resultado é o maior nível de instrução da população e as políticas de prevenção à saúde, como a redução do tabagismo, a promoção de alimentação saudável e o estímulo à atividade física.  

“O desenvolvimento econômico do Brasil tem modificado a rotina dos brasileiros, sobretudo nossa alimentação e a frequência com que fazemos exercícios físicos. O governo está atento aos efeitos colaterais da expansão do consumo e tem agido pela promoção de hábitos saudáveis, num esforço articulado com os gestores locais”, avalia o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.

Controle

Apesar da tendência de declínio das mortes decorrentes das doenças crônicas no país (17% entre 1996 e 2007), as mortes por diabetes apresentaram aumento de 10% no mesmo período (Saúde Brasil, 2009- SVS). Os principais fatores de risco para o desenvolvimento do tipo 2 da diabetes em adultos é o histórico familiar e a obesidade.

Desde 2006, o Ministério da Saúde monitora os fatores de risco e de proteção para doenças crônicas não-transmissíveis por meio do sistema Vigitel. São mais de 54 mil entrevistas para acompanhar variáveis como o hábito de fumar, o consumo de bebidas alcoólicas, o excesso de peso, a obesidade, os hábitos alimentares, o sedentarismo e a morbidade referida, com diagnóstico prévio para diabetes e hipertensão arterial.

Segundo dados do Ministério da Saúde, 33 milhões de brasileiros são hipertensos. Destes, 80%, aproximadamente 26 milhões de pacientes, são atendidos na rede pública de saúde. De acordo com o Vigitel, RJ, PE, SP, MS e BA são os estados onde, percentualmente, há mais pessoas hipertensas. 
Segundo as mesmas fontes, há no país 7,5 milhões de pessoas diagnosticados com diabetes.

Fatores de risco

Os principais fatores de risco para as doenças crônico-degenerativas não-transmissíveis são a hipertensão (ou pressão alta), o colesterol alto, o tagabismo, o consumo de álcool e o excesso de peso. Em 2010, o Vigitel, inquérito telefônico feito pelo Ministério da Saúde para monitorar comportamento de risco ou de proteção para doenças crônicas, verificou que o percentual dos brasileiros que sofrem de obesidade cresceu de 11,4% para 13,9% entre 2006 e 2009.

A pesquisa domiciliar do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2008-2009 feita em parceria com o Ministério da Saúde confirma o crescimento explosivo do excesso de peso e da obesidade no Brasil nas três últimas décadas, revelando que metade da população adulta, uma em cada três crianças de cinco a nove anos e um em cada cinco adolescentes está acima do peso.

“Nos últimos 30 anos, o padrão de consumo alimentar da população brasileira deteriorou-se muito”, afirma o nutricionista Fábio Gomes, do INCA. Segundo ele, os brasileiros estão substituindo alimentos tradicionais e saudáveis da dieta, como a combinação arroz e feijão, por bebidas e alimentos altamente processados, densamente calóricos e com baixa concentração de vitaminas e minerais, como os refrigerantes e biscoitos, que tiveram o consumo aumentado em 400% nas últimas três décadas.

Entre os cinco principais fatores de risco para as doenças crônicas não-transmissíveis, três estão intimamente relacionados com a alimentação: hipertensão (ou pressão alta), colesterol alto e excesso de peso. Esse número aumenta para quatro se o álcool for incluído. Por esse motivo, a promoção de práticas e hábitos alimentares saudáveis contribui decisivamente para a reversão do atual quadro epidemiológico e nutricional da população brasileira e mundial, prevenindo tanto o câncer quanto as doenças cardiovasculares e o diabetes.

Alimentação saudável

No caso do câncer, a combinação de alimentação saudável com a prática regular de atividade física e o controle do peso é capaz de prevenir 63% dos tumores de boca, faringe e laringe; 60% dos tumores de esôfago e 52% dos casos em que a doença atinge o endométrio. Os dados, específicos para o Brasil, fazem parte do relatório Políticas e Ações para a Prevenção do Câncer no Brasil, Alimentação, Nutrição e Atividade Física lançado pelo INCA em parceria com o Fundo Mundial de Pesquisa contra o Câncer (WCRF).

Os números revelam ainda que 41% dos tumores de estômago, 34% de pâncreas e 37% do intestino grosso (colorretal) poderiam ser evitados por meio dessa combinação da alimentação saudável, atividade física e peso adequado. No total, 19% de todos os cânceres poderiam ser evitados por meio desse tripé. No caso específico de 12 tumores, este percentual chega a 30%: boca, faringe e laringe; esôfago, pulmão, estômago, pâncreas, vesícula, fígado, intestino grosso (colorretal), mama, endométrio, próstata e rim.

O consumo excessivo de alimentos com altas concentrações de açúcar, sódio, gordura saturada e/ou gordura trans pela população brasileira, alavancado pelo estímulo bem-sucedido ao consumo irrestrito desses alimentos por meio da publicidade, agora se revela nas estatísticas de excesso de peso e obesidade no Brasil. Por conseguinte, implicarão um aumento da parcela da população que é ou será futuramente acometida por doenças cardiovasculares, diabetes, vários tipos de câncer, entre outras doenças.

Prevenção

O SUS possui um conjunto de ações de promoção de saúde, prevenção, diagnóstico, tratamento, capacitação de profissionais, vigilância e assistência farmacêutica, além de pesquisas voltadas para o cuidado aos pacientes com doenças crônicas. São ações pactuadas, financiadas e executadas pelos gestores das três esferas de governo: federal, estadual e municipal.

Para o controle do diabetes, por exemplo, uma das estratégias do Brasil para a prevenção e o acompanhamento dos cidadãos com a doença é o trabalho desenvolvido pelas 31,5 mil equipes de Saúde da Família. Presentes em 99% dos municípios, elas conseguem identificar, tratar e acompanhar a evolução dos portadores de diabetes. Nos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASFs), os pacientes podem ser acompanhados por nutricionistas.

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