domingo, 14 de novembro de 2010

Novo tratamento para a cistite



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Uma em cada cinco mulheres enfrentará, alguma vez na vida, a via-crucis narrada a seguir: um dia acorda, senta para fazer xixi e, ao cair das últimas gotas, uma fisgada no baixo-ventre anuncia que a bexiga está infestada de bactérias. E, à medida que se multiplicam, provocam episódios mais dolorosos e recorrentes. Os homens não estão livres do tormento, embora ele seja bem mais raro no sexo masculino.

Até então, esse suplício impunha outras provações. “O tratamento da cistite durava pelo menos três dias, com o uso de antibióticos como os do grupo das quinolonas”, conta a ginecologista Patrícia de Rossi, do Conjunto Hospitalar do Mandaqui, em São Paulo. “Trata-se de opções bastante eficazes. O problema é que esses medicamentos também são usados para tratar outras doenças”, ressalva seu colega Luciano Pompei, da Universidade de São Paulo. E o contato habitual dos micro-organismos com essas fórmulas poderia torná-los resistentes à sua ação, arriscando a eficácia do remédio. Daí que, se nas primeiras 48 horas de uso a droga não surtisse efeito, seria necessário substituí-la e recomeçar o bombardeio aos germes. A fim de driblar a defesa inimiga, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia elaborou, com base em evidências científicas, uma nova diretriz para orientar os médicos sobre a maneira mais adequada de liquidar o estorvo. “O documento preconiza a prescrição da fosfomicina, um antibiótico de dose única exclusivo para combater a cistite”, adianta Pompei, que também é coordenador do Grupo de Diretrizes da Febrasgo. “Por ter uma atuação específica, a fosfomicina apresenta uma taxa de resistência bacteriana baixa”, ressalta Patrícia.

Outra vantagem é que, diferentemente das quinolonas, sua atividade não é alterada pelo consumo de alimentos ou de outros remédios. “Além disso, por ser administrada de uma só vez, deflagra menos efeitos colaterais, como diarreia e enjoo”, compara Patrícia. Ou seja, aumentam — e muito — as chances de sucesso contra os invasores.

O mecanismo peculiar de ação da fosfomicina é outro ponto a favor dela. “Seu princípio ativo desestrutura a bactéria, impedindo que ela se grude ao revestimento da bexiga, onde se proliferaria, dando início à infecção”, descreve o ginecologista César Eduardo Fernandes, da Faculdade de Medicina do ABC, na Grande São Paulo.

Além dos antibióticos, os analgésicos costumam ser prescritos como paliativos para atenuar a dor típica da infecção. “Ingerir bastante líquido é outra atitude que auxilia na expulsão das bactérias”, acrescenta o urologista Luis Carlos Neves, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. Tomar muita água, aliás, é um hábito que ajuda na prevenção. Há outros: “A enfermidade se desenvolve principalmente quando bactérias do intestino que saem pelas fezes entram no trato urinário por meio da uretra, canal por onde sai a urina, e aderem à bexiga”, explica César Eduardo Fernandes (veja infográfico ao lado). Portanto, fica a sugestão: manter a higiene íntima nos conformes e utilizar o papel higiênico no sentido da frente para trás, especialmente no caso das mulheres. Isso porque nelas o trajeto percorrido pelos germes é mais curto e de mais fácil acesso.

Segurar o xixi também facilita a vida dos micróbios. “Quanto maior o tempo que eles permanecem na bexiga, maior a chance de se instalarem por ali. O ideal é expeli-los logo”, justifica Patrícia de Rossi. Segundo o mesmo raciocínio, é recomendado ao time feminino urinar após as relações sexuais, já que a ação mecânica da penetração dá uma mãozinha aos intrusos.
Na ala masculina, a doença tende a mostrar suas garras na maturidade, quando um eventual aumento da próstata dificulta o esvaziamento da bexiga, gerando acúmulo de urina. Se a infecção aparece na infância, é necessária uma investigação atenta, porque alterações genéticas sérias podem estar por trás da complicação. Diga-se: infecções repetitivas, tanto em homens quanto em mulheres, merecem cautela. “As recorrências sugerem uma baixa imunidade, alterações anatômicas ou reinfecção após uma crise”, diz César Eduardo. Nesses casos, o médico pode pedir exames como os de urina, sangue e ultrassom para detectar onde está a anormalidade. “Muitas vezes, é preciso orientar o uso prolongado de antibióticos para acabar de vez com micróbios resistentes”, completa Patrícia.

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