A eficácia da pílula anticoncepcional na prevenção da gravidez não planejada é amplamente conhecida. Pesquisa da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) revela que 70% das usuárias não têm intenção de mudar de método contraceptivo. O que talvez muitas mulheres não saibam é que os benefícios hormonais do medicamento vão além, passando pelos tratamentos da síndrome dos ovários policísticos e de problemas de pele, como espinhas.

“As pílulas devem ser adaptadas ao perfil de cada paciente, proporcionando, assim, benefícios à saúde e ao corpo”, define a professora livre-docente Angela Maggio da Fonseca, da clínica de Ginecologia do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

“Os hormônios presentes na pílula ajudam a manter a regularidade dos ciclos menstruais e diminuem o fluxo de sangue. Os medicamentos com componentes antiandrogênicos melhoram a acne e o hirsutismo. Também são indicadas às pacientes que apresentam cistos nos ovários e para tratamento da endometriose”, completa a médica, coautora do livro Tratado de Ginecologia – Condutas e Rotinas da Disciplina de Ginecologia da FMUSP.

A regularização da menstruação, por exemplo, pode contribuir para a redução de quadros de anemia. Até mesmo quando a anomalia é intensa, o medicamento, se ingerido de maneira contínua, impede as perdas de sangue, aliviando o problema.

A pílula também é utilizada para tratamento de alterações menstruais causadas, por exemplo, pela síndrome dos ovários policísticos.

Esse distúrbio é caracterizado por períodos sem menstruação ou falta de ovulação e ser causa de infertilidade em algumas pacientes. Segundo a Dra. Angela, como na síndrome, ocorre aumento dos níveis de androgênios, as pacientes podem apresentar sinais clínicos de hiperandrogenismo ou aumento de androgênios no sangue, levando a hirsutismo, acne ou obesidade androgênica.

“O ultrassom mostra ovários geralmente aumentados de volume, com 12 ou mais cistos menores que 1 centímetro, localizados um ao lado do outro na superfície do ovário. A pílula é indicada nesses casos, pois inibe os estímulos centrais (gonadotrofinas) que atuam irregularmente no local, inibindo, portanto, a formação de cistos, e, com isso, a produção de androgênios”, acrescenta.

Endometriose e saúde da pele

Os hormônios presentes nas pílulas anticoncepcionais também podem combater a endometriose, doença caracterizada pela presença do endométrio (camada que reveste o útero internamente) fora da cavidade uterina.
É comum “associar ao problema uma ampla gama de sintomas, como dor pélvica no baixo ventre – com piora acentuada durante as menstruações –, incômodo na relação sexual e infertilidade”, explica a Dra. Angela. “Quando ingerida continuamente, a pílula ajuda contra a endometriose, pois inibe a menstruação e, portanto, o sangramento desses focos ectópicos, levando, no longo prazo, à inibição dos mesmos.”
A qualidade da pele também pode ser melhorada, principalmente no caso dos medicamentos que possuem progestógenos antiandrogênicos (acetato de ciproterona e drospirenona). Isso ocorre ao se evitar estimulação excessiva dos receptores androgênicos dos folículos pilo-sebáceos, que eleva a produção de gordura, deixando a pele mais oleosa.
Juntamente com a predisposição genética, o excesso de óleo na pele leva à hiperqueratinização (produção excessiva de células mortas contendo queratina), com o surgimento de “comedões (cravos), que, aliados a alterações da flora bacteriana, ocasionam o aparecimento de pápulas, cistos e pústulas, que, ao se romperem, deixam cicatrizes”, avalia a professora livre-docente do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital das Clínicas da FMUSP.
“Os progestógenos antiandrogênicos das pílulas anticoncepcionais bloqueiam os receptores androgênicos e inibem a produção de gordura, ocorrendo, assim, a melhora da acne”, conclui.