quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Terapia hormônal ,amiga do coração

As doenças cardiovasculares – como derrame, acidente vascular cerebral (AVC), infarto agudo do miocárdio, anginas, isquemias – são as principais causas de morte entre as mulheres com mais de 40 anos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Os hormônios que deixam de ser produzidos pelos ovários com o avançar da idade desempenham papel-chave na proteção contra essas doenças.
Por isso, a terapia de reposição hormonal à base de um combinado de estrogênio e progesterona pode ajudar a proteger o coração, desde que iniciada em momento adequado, em pacientes que não tenham diagnóstico de alguma doença cardiovascular. Nessas mulheres, a decisão da introdução da terapia hormonal deve ser individualizada, inclusive no tipo de formulação mais adequada para cada caso, como na presença de hipertensão arterial sistêmica.
"Enquanto o ovário funciona e a mulher não está na menopausa, o estrogênio a protege em relação aos homens em termos de risco cardiovascular", afirma o ginecologista Ben-Hur Albergaria, chefe do ambulatório de climatério da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e presidente da Comissão Nacional de Osteoporose da Federação Brasileira de Ginecologia (Febrasgo).

O estrogênio reduz o perfil lipídico, que é a quantidade de gordura que circula no sangue. Quando os ovários ainda produzem o hormônio, as mulheres têm colesterol e triglicerídeos em quantidades menores do que os homens. A substância também estimula o metabolismo do açúcar e ajuda a preservar o revestimento interno das artérias (conhecido como endotélio).

Nos primeiros seis meses após o fim da produção do estrogênio pelos ovários, um aumento significativo é registrado nos níveis de lípedes no sangue. A falta do hormônio também pode causar alterações na função do endotélio. "A terapia hormonal, quando implementada no início da menopausa, em mulheres antes dos 60 anos, é extremamente segura e pode beneficiar as pacientes do ponto de vista cardiovascular", afirma o ginecologista.
A via de administração preferida pelas mulheres na hora de optar pela reposição hormonal é a oral, segundo o Ben-Hur Albergaria. No entanto, algumas pacientes apresentam, com isso, distúrbios do trato digestivo, como úlceras, gastrites e refluxos. Nesses casos, são indicadas outras formas de aproveitamento dos medicamentos, como por meio de gel percutâneo, adesivos ou implantes.

Se a paciente estiver apta a iniciar a reposição hormonal, precisa saber que a duração da terapia varia de caso a caso. "O tempo também é individualizado. Enquanto a paciente não desenvolver uma contraindicação e tiver uma boa tolerância à medicação, poderá fazer o tratamento", afirma o ginecologista.
Alívio à hipertensão

Em mulheres hipertensas, há opções como combinação de estrogênio com progesterona com características especiais, a drospirenona, substância com ação diurética que traz estabilidade ou até redução da pressão em paciente com hipertensão. "Nós sabemos, hoje, que quase 50% das mulheres na menopausa se tornarão hipertensas", explica o ginecologista.

No tratamento, a drospirenona desempenha um papel crucial, já que promove pequenas reduções da pressão arterial, por exemplo de um milímetro de mercúrio – de 140 por 90 para 139 por 90,–, mas que apresentam um alto impacto protetor contra doenças.

"Estudos mostram que, com reduções tão pequenas quanto um ou dois milímetros, você propicia queda de 30% a 40% na ocorrência de AVC", ressalta o chefe do ambulatório de climatério da UFES. A terapia com drospirenona, em pacientes que estão com a pressão arterial controlada e em uso regular de anti-hipertensivos, também ajuda a diminuir a ocorrência de infarto e de insuficiência cardíaca – Além disso, auxilia na redução do peso corporal, uma prevenção contra outras doenças cardiovasculares.

É importante ter em mente que, antes de iniciar a reposição hormonal, é preciso conversar com um médico especialista para saber qual o tratamento mais indicado para o seu caso. "Dependendo do perfil da paciente, das preferências que ela tem, da história médica dela, nós vamos poder escolher o medicamento que melhor se adeque", afirma o presidente da Comissão Nacional de Osteoporose da Febrasgo.

Também é necessário passar por um exame físico completo, que inclui verificar as dosagens hormonais, para comprovar que o ovário não está mais produzindo os hormônios e avaliar se não há outras doenças. O especialista adverte, ainda, que a terapia hormonal é somente um dos pilares que garantem os efeitos positivos sobre a prevenção e controle das doenças cardiovasculares. Deve-se lembrar que o controle ou eliminação dos chamados fatores de risco cardiovasculares, tais como tabagismo, obesidade/sobrepeso, sedentarismo, ainda são os principais pontos-chave na prevenção dos eventos como infarto e AVC.
Reeducação alimentar e exercícios

"É preciso promover uma reeducação alimentar, com hábitos saudáveis de alimentação, e praticar regularmente atividades físicas", ressalta. Não se pode descuidar também da parte psicológica, pois muitas mulheres podem ficar particularmente fragilizadas após a menopausa. Fumo e alcoolismo também não combinam com o processo.

Por se tratarem de hormônios humanos, problemas na interação com outros medicamentos são pouco prováveis. No entanto, Albergaria destaca que é importante avaliar casos de forma individual para verificar se o remédio pode interferir ou não no uso.

Algumas pessoas, inclusive, não podem passar pelo tratamento. "Mulheres que já tiveram câncer de mama, câncer uterino, ou câncer na parte interna do útero (câncer de endométrio), não podem fazer reposição", ressalta Albergaria.

Ele aproveita para fazer uma distinção. "Nós temos uma visão da terapia hormonal muito mais preventiva do que curativa", diz. Isso porque o tratamento não é indicado para pessoas que já tiveram doença cardiovascular. "Quando essas pacientes já desenvolveram uma doença cardiovascular, a introdução do hormônio deixa de ser benéfica e, ao contrário, pode ser um fator de risco", adverte.

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